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terça-feira, 12 de março de 2024

CULPADO - INOCENTE - MONSTRO (Kaibutsu / Monster) de Kore-eda Hirokazu

A História: Uma mãe procura respostas que justifiquem o comportamento estranho do seu filho Minato, que tudo indica ser vítima de actos de violência por parte de um dos seus professores

O Elenco: Sakura Andô é muito boa como a mãe preocupada e Eita Nagyama vai muito bem como o professor suspeito. Mas o filme pertence, por direito, a Soya Kurokawa como Minato e Hinata Hiiragi como seu amigo Yori.

O Pior do Filme: O facto de poder passar despercebido nos nossos cinemas e poder ser ignorado pela comunidade Queer.

O Melhor do Filme: A cena na sala de música entre Minato e a diretora da escola é um momento comovente e cheio de significado, que culmina com a frase “If only some people can have it, that’s not happiness. That’s just nonsense. Happiness is something anyone can have” (Se apenas algumas pessoas a podem ter, então não é felicidade. É apenas um disparate. Felicidade é algo que todos podem ter.)

Veredicto Final: O argumento da autoria de Yûji Sakamoto, justamente premiado com o prémio de Cannes nessa categoria, está muito bem construído, mostrando-nos três perspectivas da mesma história. Primeiro (CULPADO) pelo lado de uma mãe preocupada que condena um professor; segundo (INOCENTE) pelo lado de um professor culpado de algo de que provavelmente não tem culpa; terceiro (MONSTRO) pelo lado de uma criança que sente que não é igual aos outros. Pegando nestas três perspectivas, o realizador Kore-eda Hirokazu dá-nos um drama humano com tons de thriller, que nos cativa, sensibiliza e, por vezes, nos comove.

O facto do filme ter ganho em Cannes a Queer Palm, revela que no seu âmago estamos perante uma história sobre a descoberta de sentimentos supostamente pouco normais, que leva a que os miúdos achem que possam ser uns monstros. Mas é uma bonita história sobre amizade e aprendermos a ser quem somos. Recomendo.

Classificação: 7 (de 1 a 10)










sexta-feira, 16 de fevereiro de 2024

DEIXA-TE DE MENTIRAS (Arrête Aves Tes Mensonges) de Olivier Peyon

A História: O escritor Stéphane Belcourt regressa à sua terra natal, Cognac, pela primeira vez em 35 anos. O motivo da sua visita é para promover uma destilaria. Aí conhece Lucas, filho de um colega da sua adolescência por quem teve uma grande paixão e viveu o seu primeiro amor, trazendo-lhe muitas recordações desses anos passados.

O Elenco: Guillaume de Tonquédec dá-nos um Stéphane amorfo que parece despertar para a vida ao conhecer Lucas; no papel deste, o simpático e atraente Victor Belmondo prova que neto de “peixe sabe nadar” (o seu avô é o famoso Jean-Paul Belmondo). Como os adolescentes apaixonados, Jérémy Gillet e Julien De Saint Jean (que é um dos delinquentes do O PARAÍSO) assumem a sua relação primeiro de forma muita física e depois carinhosa, sem vergonha, nem tabus, mas com talento. Uma última palavra para a presença forte de Guilaine Londez como Gaëlle, a responsável pela visita de Stéphane.

O Pior do Filme: Pensando bem, não tenho nada a apontar... não me importava de ter visto mais umas cenas íntimas dos rapazes, mas na verdade também não fazem falta.

O Melhor do Filme: O emocional discurso final de Stéphane, em que este deixa de dizer mentiras.

Veredicto Final: Oliver Peyon dá-nos um comovente filme sobre o primeiro amor, sobre a vergonha de se ser homossexual num meio pequeno e como, por muito que tentemos e nos “forcem”, não conseguimos fugir a quem somos. Peyon filma sem medo de nos mostrar o amor dos dois jovens e a felicidade deles, principalmente do jovem Stéphane, é evidente. A relação que se cria entre o escritor e Lucas é muito bem construída, num crescendo dramático que termina com o discurso final. Um dos melhores filmes de temática gay que tenho visto nos últimos anos. A não perder!

Classificação: 8 (de 1 a 10)



O PARAÍSO (Le Paradis) de Zeno Graton

A História: Num reformatório para adolescentes, Joe e William conhecem-se e apaixonam-se, algo que não é permitido no reformatório e que os leva a ter que infringir a lei.

O Elenco: Os jovens Khalil Bem Gharbia (era o objecto de afecto no PETER VON KANT) e Julien De Saint Jean têm sensualidade para dar e vender e o desejo que sentem um pelo outro é palpável e convincente.

O Pior do Filme: Os personagens adultos podiam ter mais força, principalmente Sophie que parece ser a mais próxima de Joe.

O Melhor do Filme: As cenas em que partilham o seu amor através da parede dos seus quartos.   

Veredicto Final: Um retrato crú da realidade que os delinquentes juvenis vivem e a assustadora ausência de saída para as suas vidas. Que num meio destes nasça uma história de amor é por si só quase um milagre e, sem cair em lamechices, o realizador Zeno Graton filma os seus personagens com carinho, respeito e sensibilidade. Talvez por isso seja fácil sentirmo-nos preocupados com o seu destino.

Classificação: 6 (de 1 a 10)





domingo, 28 de janeiro de 2024

DOCE PESAR (Good Grief) de Dan Levy

A História: No Natal, o marido de Marc morre num acidente de carro. Um ano mais tarde Marc descobre que Marc tinha um apartamento em Paris, bem como um amante, e decide fazer uma visita ao mesmo na companhia dos seus dois melhores amigos.

O Elenco: O trio principal de actores (Dan Levy, Ruth Negga e Himesh Patel) é muito irritante e cabe a Celia Imrie, num papel secundário, salvar a “honra do convento”.

O Pior do Filme: É impossível sentir qualquer tipo de empatia com os três personagens principais. São arrogantes, pretenciosos e pedantes!

O Melhor do Filme: As cenas em que Celia Imrie, como a advogada de Marc, aparece.

Veredicto Final: Esta comédia dramática de temática LGBT+ parece um projecto vaidoso do seu argumentista/actor Dan Levy, que se estreia aqui na realização de longas metragens. A história tinha pernas para andar, mas os diálogos forçados, o humor falhado e a falta de química entre todos (para já não falar do constante sorriso condescendente de Levy) fizeram-me perder o interesse. Não é péssimo, nem propriamente chato, mas ficou longe de me conquistar. Eu sei que são poucos os filmes LGBT+ que chegam por cá, mas isso não faz com este seja bom.

Classificação: 3 (de 1 a 10)



segunda-feira, 13 de novembro de 2023

NUOVO OLIMPO de Ferzan Özpetek

Pietro e Enea conhecem-se nos corredores do cinema Nuovo Olimpo e apaixonam-se um pelo outro; mas um futuro encontro é interrompido por uma manifestação e um acidente que impede Pietro de comparecer ao encontro. Os anos vão passando e, apesar do amor que os une, a sua vida é feito de desencontros, até que um dia...

Felizmente, o cinema LGBT vai ganhando força e os produtores perdendo a vergonha de, neste caso, mostrar o amor entre dois homens. Filmado com sensibilidade por Ferzan Özpetek (responsável também por LA DEA FORTUNA, MINE VAGANTI e LE FATE IGNORANTI), tem em Andrea Di Luigi (Pietro) e Damiano Gavino (Enea) o par perfeito, com muita química e romantismo, filmados sobre uma nostálgica luz. Os personagens secundários que os rodeiam formam uma interessante galeria onde se destaca Luisa Ranieri como Titti, a mulher que vende bilhetes no cinema, Greta Scarano como a esposa de Pietro e Aurora Giovinazzo como a amiga de Enea.

É impossível não torcemos para que os jovens se voltem a encontrar e a viver a sua grande paixão. Mas a vida real não é fácil e nesse aspecto o filme não procura respostas fáceis. No que o realizador peca é pelo facto de todos os moços terem corpinhos perfeitos, perpetuando assim o mito criado pelo cinema porno-gay. Outro ponto negativo é o trabalho de maquilhagem que vai envelhecendo os personagens, que podia ser bem melhor.

Estes dois pontos à parte, o filme é todo ele muito cinematográfico e Özpetek sabe muito bem filmar o seu elenco e Roma parece uma cidade mágica. As cenas do interior do Nuevo Olimpo são excelentes e levam-nos a um tempo em que não havia redes sociais e os engates aconteciam, entre outros locais, nas salas, corredores e casas-de-banho dos cinemas. Eram tempos mais divertidos e excitantes, captados com nostalgia por Özpetek. Recomendo!

Classificação: 7 (de 1 a 10)






segunda-feira, 25 de setembro de 2023

CASSANDRO de Roger Ross Williams

Saúl é um ‘luchador’ (lutador) amador que não esconde a sua sexualidade e decide mostrá-la ao mundo como Cassandro, um ‘luchador’ exótico que, ao contrário dos outros, vence nos ringues. Torna-se famoso e um exemplo positivo para outros homossexuais.

Como devem calcular nunca percebi muito bem o gozo de ver estas lutas (wrestler) super encenadas, nem acho graça nenhuma às mesmas. Assim, nunca tinha ouvido falar deste famoso Cassandro, cuja vida é retratada com humor neste filme biográfico. A sua vida não foi fácil, mas também não existe nada de muito dramático na mesma, pelo que a sua ascensão não parece ter sido muito difícil e talvez tivesse sido interessante perceber mais como se tornou tão acarinhado por um público homofóbico. Mas o realizador Roger Ross Williams trata o seu herói com carinho e respeito, prendendo-nos a atenção desde o início até ao final.

No papel principal, Gael García Bernal é excelente e cativa a nossa simpatia rapidamente. Bernal é sem dúvida um dos melhores e mais versáteis actores da sua geração e não ficaria surpreendido se ele estivesse entre os nomeados aos próximos Óscares para Melhor Actor, ele merece! Com um sorriso contagioso e um brilho no olhar é impossível não sentirmos empatia com ele. Só por si vale a pena ver este CASSANDRO e o restante elenco secunda-o muito bem.

Classificação: 6 (de 1 a 10)
















EISMAYER de David Wagner

Eismayer é um dos militares mais duros e masculinos do exército austríaco, admirado por uns e temido pelos seus recrutas. Mas ele tem um segredo, apesar de ser casado e ter um filho, Eismayer é homossexual. E quando se apaixona por um dos seus recrutas a sua vida leva uma reviravolta.

Baseado numa história verídica, aqui temos um drama que nos conta de forma simples e humana, sem lamechices, a história de um homem que escondeu sempre a sua sexualidade e que tem finalmente uma oportunidade de ser quem é e ser feliz. O ambiente militar é um dos mais homofóbicos que existe, o que torna este “sair do armário” mais difícil, mas graças à realização cuidada de David Wagner, a história flui de forma verosímil e evita abusar no homoerotismo a que o ambiente se proporciona.

Desde que os seus olhares se cruzam, que Gerhard Liebmann e Luka Dimic partilham uma química intensa, uma espécie de ódio/atracção que não passa despercebido aos outros. Ambos, principalmente Liebmann como Eismayer, dão-nos boas interpretações e a imagem final com os protagonistas reais desta história, dá um toque feliz ao filme. Aconselho!

Classificação: 7 (de 1 a 10)


















RED, WHITE & ROYAL BLUE de Matthew López

A disputa entre o filho da Presidente dos EUA e um príncipe do Reino Unido faz tremer a aliança entre estes dois países. Então, a fim de remediar as coisas, ambos são forçados a fingir que se dão bem e acabam por se apaixonar.

Aqui temos uma comédia romântica tão doce que até pode causar diabetes. Nesta história, muito cor-de-rosa, os dois moços enfrentam algumas dificuldades, mas o povo (que de homofóbico não tem nada) adora histórias de amor e dão o seu suporte aos jovens. É tudo irritantemente limpinho, perfeitinho e com fraco humor.

 Como o americano, Nicholas Galitzine é o típico sexy latino; como o príncipe, Nicholas Galitzine (uma espécie de versão adulta do Macaulay Culkin do HOME ALONE) é do tipo loiro insonso. Juntos não partilham qualquer tipo de química, mas é importante ter-se histórias de amor gay felizes no cinema, mas um pouco mais de chama ficava-lhes bem.

Classificação: 3 (de 1 a 10)





 


sábado, 9 de setembro de 2023

QUEER LISBOA 2023: OS CARTAZES


A 27ª edição do QUEER LISBOA – FESTIVAL INTERNACIONAL DE CINEMA QUEER, irá decorrer de 22 a 30 de Setembro no Cinema São Jorge e na Cinemateca Portuguesa em Lisboa.

Aqui vos deixo uma galeria com os cartazes de praticamente todas as longas-metragens (ficção e documentários) que vão ser exibidas no decorrer do Festival, bem como de muitas curtas-metragens.