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sábado, 31 de outubro de 2020

A MONTRA DO TALHO: GRINDR E OS OUTROS

Aviso: este meu texto pode ferir suscetibilidades e poderá não ser politicamente incorrecto.

Quem, como eu, saiu de uma longa relação e de repente se vê confrontado com as novas tecnologias de engate, a coisa pode ser um pouco estranha. No meu tempo os engates eram feitos nos bares, cinemas, rua, centro comerciais... era tudo ao vivo e a cores.


Se nesses tempos eu já me senti, quando fui ao Bric, um simples pedaço de carne cobiçado por uns, desprezado por outros. Hoje essa ligação ao talho é ainda mais forte e a app Grindr não podia ter escolhido um nome mais apropriado. As outras podem ter outros nomes, mas o resultado final é o mesmo. São todos montras e nós pedaços de carne à espera da melhor oferta ou, simplesmente, de uma oferta. A sensação de rejeição é palpável e a ausência de sentimentos assustadora. Não há mal nenhum em fazer sexo por sexo, mas parece que é apenas isso que as pessoas procuram.

 

Com 56 anos já me podem chamar de cota, ou de daddy, o que é mais simpático. Com esta idade talvez já esteja velho para esta coisa das apps. Provavelmnete, já todos estivemos, estamos ou vamos estrar no Grindr, Scruff e outros tais. Confesso que saí dessas apps ao fim de algumas semanas; aquilo causava-me angústia. Há poucas semanas instalei o Tinder, que é mais levezinho, mas também não desenvolve. 

 

Quando entramos nessas aplicações, aparece-nos a montra do produto que está disponível, ou supostamente disponível, e é só escolher. Pode-se dizer que há homens para todos os gostos e idades, mas por muito inclusivos que nós sejamos, a verdade é que a imagem exterior que nos desperta a atenção ou a simples tusa. Se gostamos de gordos, os magros passam-nos ao lado; se preferimos machões super masculinos, os afeminados estão fora da nossa esfera; se temos mais apetite por carne fresca, os cotas ou daddys não nos dizem nada; se gostamos de negros, os brancos passam para segundo plano. Quanto aos feios e bonitos é tudo muito subjectivo; ele até há feios bonitos e bonitos feios. Mas de uma forma ou outra, somos todos pedaços de carne em exposição e, salvo raras excepções, somos tratados dessa forma e acabamos por fazer o mesmo.

 

Gosto de acreditar que mesmo neste “mercado carnal” é possível fazer-se amizades e conhecer pessoas interessantes. Mas a maior parte das vezes, um simples café está fora de questão. Recebemos fotos do rabo e pila, mas revelar a cara é mais complicado e, mesmo um encontro para sexo casual, não é fácil. Julgo que a preferência é a punheta virtual, daí a troca infindável de fotos e vídeos. Nestes tempos de COVID compreendo, mas já antes era assim.

 

Não sei o que futuro nos reserva no que diz respeito a formas de como vamos interagir uns com os outros, mas tenho esperança de que estas se humanizem. Todos precisamos do contacto humano, de um simples abraço, de uma festa na cabeça, de um simples passeio a dois, companhia no cinema, um jantar sem segundas intenções e, claro, que todos nós também gostamos e precisamos de sexo, mas este não tem que ser sempre impessoal, um simples, desculpem a expressão, despejar de colhões.




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