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segunda-feira, 5 de outubro de 2020

THE BOYS IN THE BAND de Joe Mantello

A História: Nova Iorque 1968. Um grupo de amigos gays reúne-se para festejar o aniversário de um deles. A visita inesperada de um ex-colega homofóbico do dono da casa, leva a um desenrolar de acontecimentos em que a bebida ajuda a soltar línguas e sentimentos. 

O Filme: A peça, da autoria de Matt Crowley, que deu origem a este filme estreou Off-Broadway em 1968 e, em 2018, chegou aos palcos da Broadway numa nova produção que ganhou o Tony para Melhor Revival Dramática. A peça foi adaptada ao cinema em 1970 e esse filme estreou em Portugal em 1975.


Foi a recente produção da Broadway que chamou a atenção do Ryan Murphy, que decidiu produzir para a Netflix uma nova adaptação cinematográfica, usando o elenco da Broadway e o mesmo director.


Duas particularidades em relação ao talentoso elenco. Ao contrário do que acontecia no filme original, neste temos várias caras conhecidas a dar vida aos personagens, entre eles Jim Parsons, Zachary Quinto e Matt Bomer. A segunda é o facto de todos os actores serem, sem excepção, homossexuais assumidos, algo que nos anos 60/70 poderia significar o fim das suas carreiras.


Não é um filme simpático para nós homossexuais, pois não somos mostrados de forma muito positiva. É verdade que a acção decorre em 1968, antes da revolução de Stonewall, tempos muito mais complicados para os gays. Hoje em dia as coisas são, ou pelo menos parecem diferentes, temos mais visibilidade, direitos que na altura nem se sonhava com e, posso dizer, somos mais tolerados, em vez de aceites, pela sociedade em geral.


Curiosamente, um cartaz da estreia do filme original em Portugal (que aqui reproduzo) descreve na perfeição os estereótipos que ainda hoje fazem, de certa forma, parte da nossa comunidade: o gay que não o quer ser, a cabra, a bichona, o promíscuo, o amigo ideal, o prostituto e um indeciso homofóbico. Estas personagens dificilmente conseguem criar empatia com a audiência, talvez porque não nos queremos ver a nós nem aos nossos amigos neles, talvez porque gostávamos que hoje em dia as coisas fossem diferentes. É engraçado constatar que um dos personagens mais simpáticos é o jovem prostituto.

O filme sofre por ser demasiado teatral, tornando-se por vezes um pouco chato. Talvez a ter como realizador o director da peça da Broadway não tenha sido a melhor ideia, se bem que ele fez um excelente trabalho com a adaptação cinematográfica de outra peça gay, LOVE! VALOUR! COMPASSION! O filme vale sobretudo pelo duelo dos actores e na direcção destes Mantello é intocável. Estão todos excelentes!


Perto do final do filme, o personagem principal diz esta frase: “Se pudéssemos aprender a não nos odiarmos assim tanto”. Infelizmente, não me parece que isso tenha mudado muito. Sou o administrador de um grupo queer no Facebook e posso afirmar que, pelo tipo de alguns comentários que por lá fazem, continuamos a não saber respeitarmo-nos, empatia é algo que exigimos aos outros, mas não a nós próprios. Este ressabiamento que nos parece natural, causa mágoas, fere, por vezes mortalmente, pessoas e ninguém ganha nada com isso. Enquanto minoria que somos, ainda temos muito que aprender. Sim, lutamos por ter direitos iguais aos heterossexuais, mas entre nós conseguimos ser piores que eles e isso tem que mudar. Começa comigo e começa com cada um de vocês.


Vamos evitar que outra frase do filme seja verdadeira: “Mostra-me um homossexual feliz e eu mostro-te um cadáver gay”. Está na altura de aprendermos a não nos odiarmos tanto!

 

Classificação: 6 (de 1 a 10)






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