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quinta-feira, 25 de dezembro de 2014

TALVEZ UM DIA (Any Day Now) de Travis Fine

Rudy é um cantor que trabalha como drag queen num clube gay, onde conhece Paul, um advogado divorciado com problemas em assumir a sua homossexualidade. Entretanto, Rudy cria laços com Marco, um miúdo que sofre de síndroma de Down; a mãe dele é viciada em droga e acaba por ir parar à cadeia, deixando Marco à mercê dos serviços sociais. Nessa altura, Rudy, com a ajuda de Paul, vai tentar adoptar Marco; mas deparam-se com um sistema judicial mais preocupado com a relação entre eles dois do que com o bem estar de Marco.

Pelo resumo do argumento, imagino que devem estar a pensar que se trata de um melodrama lamechas, cheio de açúcar e boas intenções. Mas estão enganados, o realizador Travis Fine dá-nos um comovente drama, filmado com sensibilidade e dignidade. Não me recordo de alguma vez ter visto este assunto retratado no cinema e gostei da forma crua e realista com o que mesmo é aqui tratado. Não é um filme bonito e o casal gay não parece saído de uma revista de modelos, nem o miúdo tem o ar açucarado que é habitual no cinema americano, tudo coisas que tornam este filme numa lufada de ar fresco no actual panorama cinematográfico. No final saímos do cinema com um sabor amargo na boca, mas isso nem sempre é mau.

O elenco foi bem escolhido e todos nos dão interpretações convincentes, mas o filme pertence por direito a Alan Cumming. Este versátil actor, que também canta (o seu último número musical é notável), entrega-se de alma e coração ao personagem de Rudy, conseguindo criar uma empatia imediata com o público, que é essencial ao filme. Sem dúvida uma das grandes interpretações do ano!

Imagino que este é mais um daqueles filmes que vai passar despercebido pelo público e é lamentável que assim seja. Deveria ser de visão obrigatória para toda a gente, para perceberem quanto o preconceito e a intolerância pode prejudicar a vida de todos nós. Não percebo porque razão o filme não foi exibido no Queer Lisboa, mas têm agora a oportunidade de o verem e não o percam. Para além de ser um dos melhores filmes que vi este ano, também é um filme importante e extremamente actual! Classificação: 9 (de 1 a 10)




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