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terça-feira, 14 de fevereiro de 2023

ACTORES QUEER VS ACTORES HETERO












Para os membros mais distraídos da nossa "comunidade queer" chamo a atenção para o facto de neste momento termos em exibição nos nossos cinemas três filmes onde os principais protagonistas são queer.

No BATEM À PORTA um casal gay vê-se confrontado com uma terrível decisão que pode mudar o Mundo. Em A INSPEÇÃO um jovem gay inscreve-se nos Marines para ganhar auto-estima e a aprovação da sua mãe homofóbica. E para terminar, em TÁR uma obsessiva e talentosa maestra lésbica vê-se a perder o controle da sua vida.

Nos dois primeiros filmes os protagonistas são interpretados por actores assumidamente gay, Jonathan Groff & Ben Aldridge e Jeremy Pope. Em TÁR o papel principal é interpretado por uma actriz heterossexual, Cate Blanchett. Mas a verdade é que a sexualidade destes actores é completamente irrelevante para os papéis que desempenham. No BATEM À PORTA serem estes actores ou outros que não fossem gay, não traz nenhuma mais valia ao filme. E o mesmo pode se dizer quanto ao A INSPEÇÃO; consigo imaginar muitos outros actores a fazerem este papel. Já quanto ao TÁR não consigo imaginar outra actriz (talvez Glenn Close quando era mais nova) a fazer melhor o papel; Blanchett é divinamente extraordinária!

Isto levou-me a pensar nas vozes que condenam actores heterossexuais a representar papéis queer; acho isso um verdadeiro disparate! Um actor deve ser escolhido pelo seu talento e não pela sua sexualidade, identidade de género ou etnia. Se assim fosse, todos as actores queer não deveriam interpretar papéis heterossexuais e, tendo em conta a maioria dos filmes que se fazem, provavelmente raramente teriam trabalho. 

No passado, Rock Hudson (e outros) foi um dos grandes galãs do cinema e o facto de ser gay não o impediu disso. O mesmo posso dizer de Richard Chamberlain, o eterno Dr. Kildare. Sim, eram outros tempos e para sobreviverem tinham que permanecer nos seus “armários”, mas tiveram as suas carreiras sem a real necessidade do público saber com quem iam para a cama. Na realidade, nunca percebi muito o interesse pela vida íntima dos actores, a mim o que me interessa é o que eles fazem no ecrã mágico que é o Cinema. Talvez por isso seja contra a chamada “cancel culture”, onde um actor é condenado pelas suas escolhas pessoais em vez de ser admirado pelo seu talento, casos recentes como Kevin Spacey e Johnny Depp (este parece que já se safou) vêm-me à mente. Curiosamente no TÁR este tema é muito bem abordado.

Acho triste quando Eddie Redmayne, um actor heterossexual, diz que se arrepende de ter interpretado uma transsexual em THE DANISH GIRL, papel que lhe valeu uma nomeação para o Óscar, mas pelos vistos já não se importou de interpretar muito recentemente o papel do Mestre de Cerimónias na nova versão teatral de CABARET; fica bem ser-se politicamente correcto, mas um pouco de coerência faria bem ao Redmayne.

Mas felizmente o cinema está cheio de excelentes interpretações de personagens queer por actores que, seja do meu conhecimento, não o são: Tom Hanks em PHILADELPHIA, Hilary Swank em BOYS DON’T CRY, de novo Cate Blanchett em CAROL, Colin Firth em A SINGLE MAN, Firth e Stanley Tucci em SUPERNOVA, Hugh Grant em MAURICE, Sean Penn in MILK, Matt Damon em THE TALENT MR. RIPLEY, Charlize Theron em MONSTER, Greg Kinnear em AS GOD AS IT GETS, o trio de actores Hugo Weaving, Guy Pearce e Terence Stamp em THE ADVENTURES OF PRISCILLA QUEEN OF THE DESERT ou o trio Patrick Swayze, Wesley Snipes e John Leguizamo em TO WONG FOO THANKS FOR EVEYTHING JULIE NEWMAR, para terminar Heath Ledger e Jake Gyllenhaal (confesso, que desconfio que o Jake é gay) em BROKEBACK MOUNTAIN. Todos filmes que aconselho verem.

Por isso deixemo-nos de “paneleirices” (desculpo-me o termo, mas é o mais adequado que conheço) e vamos lá manter a mente aberta para todos os lados. Venham mais filmes LGBT que falem de temas que nos interessam e que, de certa forma, vão educando o grande público. Este, como sabem, quer ver bons actores no ecrã, independentemente da sua vida intíma, cor ou identidade de género. E eu também!

E agora, toca a levantarem o rabo das cadeiras, sofás e cama e vão ver estes três filmes ao cinema. Se não forem, depois não se podem queixar que raramente estreiam filmes queer nos nossos cinemas. 




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