A História: Após o 25 de Abril de 1974, o escritor Al
Berto, depois de ter estado a viver uns anos na Bélgica, regressa à sua terra
natal, Sines, Uma vez aí, através de uma amiga, conhece João Maria e
apaixonam-se um pelo outro. A sua relação e o tipo de vida que levam com os
amigos choca a sociedade da pequena cidade, com consequências para todos os
envolvidos.
Os Actores: Nos papéis principais, Ricardo Teixeira e
José Pimentão vivem de forma desinibida a sua paixão e emanam uma forte
sexualidade. O primeiro tem ar de menino rico e maroto, com uns lábios sensuais
que fazem lembrar os de Angelina Jolie. O segundo tem um olhar profundo e
triste. Ambos estão rodeados de um bom elenco, onde tenho que destacar a
excelente Gabriela Barros e o divertido João Villas-Boas, bem como Rita Loureiro
que tem uma presença forte como a amante do pai de João Maria e mãe do pequeno
Vicente (sim, é o realizador do filme).
O Filme: Este retrato de um Portugal desconhecido ou
esquecido da maioria, mostra-nos uma sociedade que, apesar de ter saído de uma
ditadura fascista, continua agarrada ao seu passado e a valores morais
fechados, incapaz de aceitar alguém que seja diferente ou que não viva segundo
aquilo que eles acham aceitável. Apesar dos acontecimentos narrados terem
acontecido nos 70, a verdade é que as coisas, infelizmente, não mudaram assim
tanto, apenas estão mais disfarçadas.
O realizador e argumentista Vicente Alves
do Ó dá-nos uma cuidada recriação de época, com especial atenção aos pequenos
pormenores (por exemplo um maço de tabaco SG), criando imagens de grande
beleza. A música envolvente de Pedro Janela, o desenho de produção (acho que é
assim que se diz em português) da responsabilidade de Joana Cardoso e a
fotografia atmosférica de Rui Poças, ajudam à festa. Por falar em festas, as
que Al Berto dá no seu palacete são bastante atraentes e dá vontade de fazermos
parte delas. Enquanto via o filme não pude deixar de pensar no cinema de Rainer
Werner Fassbinder, principalmente no seu QUERELLE; duas cenas remeteram-me
directamente para esse filme: a cena amarela-alaranjada com o marinheiro e a
sequência em que Maria Belga canta na festa. Há mais uma canção, cantada por
Márcia Cardoso, que encaixa na perfeição na história e parece assombrar as
paredes do palacete.
Dos filmes que vi de Vicente Alves do Ó, este, para mim, é
o melhor e o primeiro de que gosto; talvez me seduza o lado decadente das
festas, o colorido dos personagens e o humor que estava ausente nos seus filmes
anteriores (não vi O AMOR É LINDO). O filme começa com a imagem forte de uma prostituta a falar com uma
postura muito teatral e temi o pior, mas depressa me deixei levar pela história
e envolver com os personagens. Só tenho uma pequena coisa a apontar - como não
percebo nada de francês, seria bom que o filme tivesse legendas nas cenas
(curtas) em que esse idioma é falado. Sendo uma delas uma divertida leitura de
poesia, que ainda seria melhor se eu tivesse percebido o que estavam a
declamar. Mas o defeito é meu, que não falo nem percebo essa língua.
O cinema
português parece estar de boa saúde e este filme pessoal, mas também comercial,
merece ser descoberto pelo público.
Classificação: 7 (de 1 a 10)
Sem comentários:
Enviar um comentário