É muito raro termos nos nossos cinemas filmes de temática LGBT+, pelo que é de louvar, independentemente da sua qualidade, a estreia de dois títulos nas últimas semanas. Um deles é português, FOGO-FÁTUO, e o outro uma co-produção francesa/belga, PETER VON KANT.
O primeiro conta de forma humorística a história de um jovem monarca português que quer ser bombeiro e que se apaixona por um colega seu de cor. O segundo é uma encenação teatral inspirada na obra de Rainer Werner Fassbinder, onde um realizador quarentão se apaixona por um jovem de etnia árabe. Ambos os filmes nos falam de amor, aquele sentimento que tantos de nós procuramos, com resultados muito variáveis e capazes de alterar para sempre as nossas vidas.
Confesso que fui ver o FOGO-FÁTUO de João Pedro Rodrigues (lembram-se de O FANTASMA?) sem estar a par que se baseava livremente em factos da nossa sociedade e, como tal, não percebi muito bem a piada da coisa. Depois de saber o que estava por detrás já lhe achei alguma piada, mas não a suficiente para gostar do filme. Os seus números musicais são demasiado artificias (o assustador número ao início com criancinhas fez-me temer o pior), na realidade tudo é propositadamente demasiado artificial e teatral e não gostei disso. Mas não desgostei de ver as pilas e a cena de sexo tem a sua graça.
Teatral é também o filme de François Ozon, PETER VON KANT. Começa com a abertura das cortinas de uma janela e termina com o encerramento das mesmas, mas não é artificial. Os seus personagens são maiores que a vida e é com gosto que assisti à forma como interagem entre si, prendendo-nos nos diálogos teatrais, pontuados com humor e defendidos com paixão pelo excelente elenco. Uma sentida homenagem ao cinema de Fassbinder (infelizmente não vi o seu AS LÁGRIMAS AMARGAS DE PETRA VON KANT), com a presença as sua actriz fetiche, Hanna Schygulla. Mas de quem eu mais gostei foi de Stefan Crepon como Karl, o criado/escravo do realizador... e a Isabelle Adjani está óptima.
Quando estreiam filmes desta temática nos nossos cinemas, acho que a “comunidade” LGBT+ tem o dever de ir vê-los, de forma que os distribuidores percebam que há público para os mesmos e assim nos dêem mais filmes do género.
FOFO-FÁTUO de José Pedro Rodrigues - Classificação: 3 (de 1 a 10)
PETER VON KANT de François Ozon - Classificação: 7 (de 1 a 10)
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